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Roteiro de Os Crimes de Grindelwald será publicado no Brasil

Publicação será lançada dia 1° de dezembro

A Editora Rocco confirmou que publicará a edição impressa em português do roteiro original de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, escrito por J.K. Rowling cujo o filme será lançado no cinema no dia 15 de novembro. Confira a capa:

Ambientado no mundo bruxo de J.K. Rowling, o segundo da série de cinco filmes que começa com Animais fantásticos e onde habitam muda-se de Nova York para Londres e Paris. Complementando os acontecimentos que ajudaram a dar forma ao mundo bruxo, o filme apresentará pontos em comum com as histórias de Harry Potter que deliciarão os fãs dos livros e dos filmes.

No final de Animais Fantásticos e Onde Habitam, o poderoso bruxo das trevas Gerardo Grindelwald foi capturado em Nova York com a ajuda de Newt Scamander. Mas Grindelwald, cumprindo sua ameaça, foge da prisão e passa a reunir seguidores, cuja maioria não suspeita de suas verdadeiras intenções: criar bruxos puro-sangue para governar todos os seres não mágicos.

Tentando frustrar os planos de Grindelwald, Alvo Dumbledore arregimenta Newt, ex-aluno de Hogwarts, que concorda em ajudar mais uma vez, sem saber dos perigos que tem pela frente. Limites serão traçados e o amor e a lealdade serão testados, até entre os amigos e familiares mais fiéis e confiáveis, em um mundo bruxo cada vez mais dividido.

O lançamento está programado para o dia 1º de dezembro.

Deadpool 2 | Crítica

Continuação amplifica as qualidades do primeiro filme e compensa suas indecisões na base do excesso

Embora o primeiro filme de Deadpool siga fielmente o que a HQ do mercenário tem de mais eficiente, o longa chegou aos cinemas bastante favorecido pelo fator surpresa. Deadpool 2 tenta suprir essa falta do jeito que as continuações hollywoodianas normalmente fazem, potencializando o que deu certo no original – principalmente as piadas de referência pop e de metalinguagem. Deadpool 2 acaba funcionando como um filme-comentário sobre o próprio sucesso de Deadpool e sobre o novo lugar que o personagem ocupa na paisagem da comédia americana hoje.

Nesse sentido, a experiência que a continuação oferece é, em comparação com o primeiro longa, ainda mais descolada de qualquer senso tradicional de fabulação e suspensão de descrença. A própria adaptação que o filme faz dos quadrinhos desta vez – pegando o conceito de Cable, apresentando novos mutantes, tanto aliados quanto vilões – parece pautada pelo descompromisso, e o Cable de Josh Brolin que vemos aqui, em particular, é bastante simplificado em relação à mitologia que envolve o personagem do futuro nas HQs dos X-Men.

A regra é aproveitar o que personagens têm de potencial visual, cômico, então Cable fica sendo o “mutante sombrio”, e Brolin se esmera em ocupar a função do escada de deadpan face para as piadas de Ryan Reynolds. Já Dominó (Zazie Beetz) acaba ganhando mais tempo de cena menos por seu caráter funcional e mais pela oportunidade de brincar com situações de ação envolvendo lances engraçados de sorte. No humor, Deadpool 2 consegue criar momentos e personagens que realmente trazem alguma novidade em relação ao filme anterior (mesmo quando só varia e amplifica situações já vistas, como os desmembramentos de Wade Wilson), e a escatologia fica mais proeminente (a imagem de Wade definhando e tendo seu corpo dobrado nas lutas com Cable são um dos pontos fortes da continuação).

São justamente as lutas corpo a corpo que, em termos de ação, o filme oferece de melhor. Quando Cable e Deadpool brigam na prisão, por exemplo, a tradicional coreografia de artes marciais com três movimentos por plano ganha esse bem-vindo adendo da “elasticidade” do corpo de Wade, e o diretor David Leitch consegue encenar a briga de um jeito que ela parece mesmo de impacto, que tenha um peso visual e não apenas um caráter cômico descompromissado. No geral, porém, Leitch parece fora de lugar; especialista em efeitos práticos e cenas com dublês, ele não maximiza o orçamento magro nas cenas de CGI como Tim Miller fazia no primeiro filme. Miller, afinal, vinha justamente do mercado de VFX, e a computação gráfica de Deadpool 2 parece mais pobre que a do primeiro filme – basta ver como Colossus ficou com menos texturas ou como as tomadas aéreas da perseguição do comboio carecem de fisicalidade.

No humor e na ação, o filme tem seus momentos. O que desgasta Deadpool 2 mesmo é a indecisão – já vista inclusive em Zumbilândia, também escrito pela dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Werneck – entre a ironia e a seriedade. Se a premissa dramática do primeiro Deadpool estava em sintonia com a comédia (Wade quer se vingar, e isso só acaba servindo para engatilhar o humor e a ação), o segundo filme compra um dos pacotes dramatúrgicos prontos de Hollywood (o herói solitário/traumatizado que precisa de alguém para ouvir e aceitar seus lamentos), e esse pacote não combina muito com o personagem no fim.

O resultado não é tão satisfatório porque essa premissa exige um envolvimento emocional que – fica logo evidente – Deadpool 2 não tem vocação nenhuma para honrar. Assistimos então a uma meia-paródia, um filme que coloca todos os seus esforços em formular e entregar gags com variedade (a piada de referência cinematográfica, a piada meta, a piada sexual, a piada escatológica) ao mesmo tempo em que se sustenta numa trama de redenção pretensamente séria. Deadpool 2 acaba não só um filme indeciso, mas principalmente um filme que acaba também minando seu caráter subversivo ao seguir uma fórmula bastante conservadora de arcos dramáticos.

Bombardeado por uma trama que tenta compensar sua indecisão com uma sucessão intensa de eventos, o espectador pode sair extenuado de Deadpool 2. No meu caso, depois de umas duas horas após o filme passei a gostar mais de momentos isolados mesmo, como a cena toda da conciliação na sala de Blind Al, e isso talvez demonstre que Deadpool – que afinal é um personagem que em si não tem tanto a oferecer – funciona melhor quando assume uma estrutura mais de esquetes do que de jornada emocional.

Deadpool 2 (2018)

(Deadpool 2)
  • País: EUA
  • Classificação: 18 anos
  • Estreia: 17 de Maio de 2018
  • Duração: 120 min.

Vingadores: Guerra Infinita | Crítica

Era dos heróis no cinema chega ao ápice com nova aventura da Marvel

A Marvel construiu um universo no cinema calcada na capacidade de adaptar e modificar seus personagens criados nos quadrinhos. A noção de que a mitologia inventada por Stan Lee, Jack Kirby e tantos outros teria que ser alterada, sem perder a essência, talvez tenha sido o ingrediente mágico na receita que hoje norteia Hollywood. Dez anos depois do pontapé inicial, o estúdio entregou nas mãos dos Irmão Russo a missão de encerrar o primeiro arco dos Vingadores. Guerra Infinita cumpre essa tarefa com êxito e se mantém fiel às características que fizeram a Marvel ser tão aclamada nos últimos anos.

Mais do que um filme de aventura ou ação, como a maioria de seus antecessores, essa empreitada dos heróis tem um senso de urgência muito maior. É um evento. Ou seja, os riscos são evidentes e impactantes. Tudo tem consequência. Para que isso fosse sentido pelo público, os roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus optaram por tornar o vilão Thanos o centro da história. Vingadores: Guerra Infinita é um filme carregado pelo inesperado carisma do antagonista, que tem motivações contextualizadas, críveis e se encaixa perfeitamente no universo apresentado – ele é cruel, misericordioso, tem senso de humor e é amável. Tudo isso se deve também a boa atuação de Josh Brolin como o titã, perfeitamente construído pela empresa de efeitos visuais ILM.

Essa persona de Thanos é construída a partir da busca pelas Joias do Infinito, as pedras que ilustram o título do filme. Nessa incessante procura, ele apresenta facetas e relações que o deixam mais próximo ao espectador, criando empatia a partir das atitudes que tem com coadjuvantes como Gamora. A relação dele com as filhas é o que norteia a trama de Guerra Infinita, e talvez seja o maior acerto da Marvel, que pela segunda vez acerta em cheio na construção emocional de um vilão – a primeira foi com Killmonger, de Pantera Negra. Os sentimentos e a humanização do personagem são apresentados sem pieguice e com diálogos simples, sempre visando o objetivo final da aventura e com a consciência de que o filme é um blockbuster sem pretensões filosóficas.

Com um inimigo estabelecido, resta aos diretores o desafio de conciliar tantos heróis na mesma história. E a competência mostrada em Guerra Civil é repetida aqui, em uma escala bem maior. Enquanto no último filme do Capitão os irmãos patinaram para entender como reverberar os problemas do dilema central (a briga entre Steve Rogers e Tony Stark), aqui todos os envolvidos são impactados de alguma forma. O núcleo dos Guardiões funciona perfeitamente com Thor, tanto na parte cômica quanto na dramática. A transformação do Deus do Trovão é notória, que finalmente encontra um caminho entre a comédia e eloquência celestial, continuando o que foi introduzido em Ragnarok.

O impacto terrestre é sentido pelo grupo liderado por Homem de Ferro, Homem-Aranha e Doutor Estranho, por mais que eles estejam em diversos lugares ao mesmo tempo. Robert Downey Jr. repete a ótima química com Tom Holland e mostra que pode funcionar bem com Benedict Cumberbatch. O trio também serve como lembrete da Batalha de Nova York e dos poderes das Joias, explicando o impacto que o poder de Thanos terá sobre o universo – além disso tudo, protagonizam uma das melhores cenas de ação da história da Marvel. É a comprovação de que os Russo evoluíram muito na hora de dirigir momentos abarrotados de efeitos especiais. A sequência utiliza os poderes de cada herói e no final entrega a emoção necessária para um evento do tamanho de Guerra Infinita.

O ritmo e a construção da narrativa só não são acompanhadas por Capitão América e Cia. Ainda que as cenas de ação em Wakanda sejam muito melhores do que as de Pantera Negra e a relação entre Feiticeira e Visão funcione, o roteiro tira todo o peso de Steve Rogers, Bruce Banner e T’Challa. Eles brilham em momentos de ação, mas pouco influenciam na história e por isso parecem sempre de lado, menos importantes perante ao que os outros heróis estão sofrendo. Como o cerne de Rogers no cinema era o conflito Stark, pouco sobra para questionar – o lado guerreiro de todos os seus companheiros é mais explorado do que o dramático. No fim das contas, o mais humano dos heróis se torna o menos interessante.

É admirável a capacidade de Guerra Infinita de tornar o vilão o melhor traço de um filme que tinha tudo para ser o palco principal dos heróis. Thanos rouba a cena de forma inesperada, com personalidade e sem a loucura desvairada de vilões típicos. Há propósito, há justificativa e há alma em todas as palavras ditas pelo gigante roxo, que também proporciona aos heróis as cenas de ação que ficarão na memória do público por muito tempo. A Marvel entrega tudo que os fãs queriam, mostra evolução no tratamento de seus personagens e se mantém fiel à receita de entretenimento que a fez ser o ícone do cinema contemporâneo. Vingadores: Guerra Infinita é o evento prometido do início ao fim, e o começo de uma nova era no gênero de super-heróis.

Vingadores: Guerra Infinita (2018)

(Avengers: Infinity War)
  • País: EUA
  • Classificação: 12 anos
  • Estreia: 26 de Abril de 2018
  • Duração: 150 min.

Rampage: Destruição Total | Crítica

Filme é fiel ao game e ignora noções narrativas em favor da atração visual

À medida em que Hollywood retorna a um senso de cinema de gênero orientado por atrações e não por pretensões de mitologia (as trilogias parecem tão coisa do passado), filmes descompromissados como Rampage: Destruição Total se tornam mais frequentes. Uma premissa mirabolante mas convincente; um perigo iminente; personagens-heróis minimamente consistentes que precisam se convencer de seu destino manifesto – a fórmula é velha mas se renova com facilidade.

A adaptação do game estrelada por Dwayne Johnson adere logo de cara à noção de que esse tipo de filme precisa, antes de mais nada, da sensatez de não perder tempo com o desnecessário. E em Rampage tudo é bastante imediato: um acidente na órbita da Terra faz caírem três caixas com um mutagênico que cria nos EUA três animais gigantes, que são atraídos até Chicago por um sinal, e cabe a The Rock impedir uma destruição como aquela que se vê no jogo (elemento que o filme segue com um ou outro easter egg para o fã mais atento).

O diretor Brad Peyton – que trabalhou antes com Johnson em Viagem 2 e no filme-catástrofe San Andreas, cujo parentesco com Rampage é muito claro como fator de venda do novo longa – não tem muito tino narrativo, porém, para diferenciar aquilo que pede imediatismo daquilo que é simplesmente funcional ou trivial. Então o que se vê em Rampage é uma construção de arcos de personagem bastante precária, acompanhada de viradas de roteiro entregues ao público com uma exposição bastante burocrática.

Rampage busca o imediato e o descomplicado, sim, mas isso acaba se traduzindo no filme em uma aborrecida história com meia-dúzia de personagens explicadores de trama: o melhor amigo do protagonista está lá só para lembrá-lo do arco de superação de trauma, por exemplo, e sai de cena minutos depois de concluir essa função. Da mesma forma, é muito oportuno que os irmãos vilões tenham imagens via satélite de tudo o que ocorre no filme, porque afinal na cabeça dos realizadores não basta narrar eventos, é preciso que dois personagens expliquem entre si (e para nós) aquilo que acabamos de ver.

É com alguma satisfação, portanto, que se assiste aos momentos de destruição em Rampage, porque fica logo evidente que todo esforço criativo de Peyton foi dedicado exclusivamente em conceber, desenhar e renderizar as capturas de movimento e o CGI do destruction porn, que se desenrola sem renegar o caráter ridículo que lhe é natural. (O ridículo aparece antes na cafonice com que Johnson e Naomie Harris discutem seus dramas, mas como em tudo neste filme a cena passa suficientemente rápido para que não incomode tanto.)

É o ridículo, no fim, o único elemento de Rampage que poderia se dizer autêntico ou particular. Graças ao ridículo, inclusive, o grande momento do filme, envolvendo a destruição de um dos cartões-postais de Chicago (uma cena que recorre à iconografia do 11 de Setembro, tomadas as devidas proporções, de forma parecida com que Godzilla recorria ao imaginário da Segunda Guerra e do perigo nuclear para ganhar força), transcorre sem que essa emulação do WTC se fixe e se transforme num mal estar para o espectador. Rampage existe em função dessa cena. A questão é tolerar o resto até lá.

Rampage – Destruição do Total (2018)

(Rampage)
  • País: EUA
  • Classificação: Não definido
  • Estreia: None
  • Duração: indisponível

Nota do crítico:twohands(Regular)

Uma Dobra no Tempo | Crítica

Ava DuVernay faz adaptação com a melhor das intenções, mas falha na criação de um universo fantástico

A apresentação de Uma Dobra no Tempo para a imprensa brasileira começou com um recado de Ava DuVernay. No vídeo, a diretora explicava que a adaptação do livro de Madeleine L’Engle foi feita tendo em mente crianças de 8 a 12 anos. Sua intenção era inspirar aceitação para uma nova geração.

Em 1h49 o filme comprova esse objetivo. Todo sentimento que percorre o longa é genuíno. Porém, enquanto abraça a sua vocação sentimental, Uma Dobra no Tempo negligencia a sua embalagem fantástica. O roteiro de Jennifer Lee e Jeff Stockwell é incapaz de criar um universo intrigante por tornar a “moral da história” um alicerce, não uma consequência da narrativa. Os personagens e situações são sempre descritos, impostos, como uma grande aula.

Mesmo que o didatismo seja explicado pela juventude do seu público-alvo, falta ao filme um elemento essencial para manter a atenção de qualquer criança: diversão. Salvo um breve voo sobre uma folha antropomórfica, Meg (Storm Reid), a heroína dessa história, não tem qualquer momento de libertação na sua passagem para um mundo de fantasia. Ela sofre, salva o pai de forças malignas e aprende uma lição importante sobre a vida, mas o seu mundo real continua mais interessante do que as possibilidades infinitas de um multiverso.

DuVernay, que tem uma filmografia mais voltada para documentários e filmes baseados em fatos, como Selma: Uma Luta Pela Igualdade, claramente se sente mais à vontade na “realidade”. Quando filma a quadra de esportes do colégio cheia de crianças para captar o deslocamento de Meg, a diretora diz mais sobre sua protagonista do que nos diálogos que listam seus defeitos e qualidades. Ali o enquadramento é amplo, as cores são quentes, e a personagem não precisa de palavras para criar uma conexão. Quando chega no outro mundo, a câmera é quase sempre estática, o enquadramento fechado, em uma sucessão de planos e contraplanos presos aos rostos dos personagens.

O elenco carismático (Reid, Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Mindy Kaling, Levi Miller, Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw, Zach Galifianakis e Michael Peña) ameniza a jornada, mas a promessa de maravilhamento que nunca se concretiza torna o filme cansativo. Os figurinos de Paco Delgado são bem construídos e detalhados, mas falta conexão com o design de produção de Naomi Shohan, que ora se mostra inspirada pelo design geométrico sessentista (fazendo referência à época em que o livro foi lançado), ora cai no genérico, abusando de signos já esgotados da fantasia (como na representação cancerígena do planeta Camazotz). Com uma câmera que não parece interessada pelo fantástico, essa mistura visual nunca ganha sustância e o filme não deixa sua marca.

Uma Dobra no Tempo estabelece uma mensagem clara e sincera de aceitação, mas não cria um mundo com que se possa sonhar. Talvez entre as crianças esse aprendizado baste, sem a exigência por uma fantasia coesa. Diz a experiência, contudo, que os melhores filmes da infância são aqueles não perdem a força na vida adulta.

Uma Dobra no Tempo (2018)

(A Wrinkle in Time)
  • País: EUA
  • Classificação: Não definido
  • Estreia: None
  • Duração: indisponível

Nota do crítico:twohands(Regular)

Pedro Coelho | Crítica

Adaptação do clássico infantil presta algumas homenagens, mas não encanta

Mais de 100 anos após sua estreia nos livros infantis de Beatrix Potter, Pedro Coelho chega aos cinemas na adaptação do diretor Will Gluck. Revisitando o cenário bucólico das obras da escritora, o filme leva o coelhinho e seus amigos para o século XXI, misturando live-action e computação gráfica. Porém, com uma narrativa muitas vezes arrastada, não encanta como antes.

Agora, os personagens não têm como grande rival o velho sr. McGregor, mas sim um parente distante dele, Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), que herda a propriedade logo no início do filme. Mas, para a sorte dos bichinhos, eles não estão sozinhos. A artista incompreendida Bea (Rose Byrne) os defende sempre que vê alguma injustiça. O único empecilho para os coelhinhos liderados por Pedro é o romance entre sua defensora e seu inimigo, que atrapalhará os planos do grupo de conquistar a horta, mas os ensinará algumas lições.

Embora atualize as clássicas histórias de Potter, o longa traz algumas homenagens, a começar pela cena de abertura. Assim como em A História de Pedro Coelho, lançado em 1902, o filme mostra o coelhinho invadindo a horta do sr. McGregor (Sam Neill) com o objetivo de levar o maior número possível de vegetais. Ele, porém, é pego em flagrante pelo homem e, na fuga, perde sua jaqueta azul. As ilustrações da autora também são referenciadas o tempo todo, ora em cenas específicas do filme, ora nas próprias obras da personagem de Rose Byrne – que não se chama Bea à toa. Ainda assim, o charme do famoso personagem de Potter não foi captado nas telonas. Falta ao filme, sobretudo, timing para as piadas.

O maior exemplo disto é o caso da alergia alimentar. Se por si só o tema não é engraçado, a abordagem do assunto foi insensível e espalhafatosa, mas não só porque chamam a intolerância a amoras do jovem McGregor de “frescura”. O erro mais grave está na construção da situação que, teoricamente, deveria ser cômica. A piada tem uma quebra da quarta parede completamente fora do tom e culmina na execução de um plano dos bichinhos de matar o personagem de Gleeson jogando as frutas na sua pele e boca. O homem, então, é obrigado a correr para aplicar uma dose de adrenalina antes de sofrer uma reação anafilática. Os coelhos riem, mas a situação dificilmente causa risada, só estranhamento e uma resistência para torcer para o protagonista.

Há também uma tentativa de agradar a todos os públicos, mas a adaptação acaba dividida em momentos claramente dedicado para as crianças, cheios de bagunças e trapalhadas do “vilão” de Gleeson, e outros mais voltados para os adultos. Diferentemente de outros filmes do gênero, não há uma unidade nessa junção, somente a impressão de uma colcha de retalhos.

Domhnall Gleeson mais uma vez é colocado para fazer um papel caricato e vilanesco, mas funciona de verdade quando seu personagem entra no modo “comédia romântica”. Byrne, por sua vez, entrega uma performance morna, sem surpreender ou decepcionar, já que a própria personagem não abre margem para muita coisa além disso.

No fundo, o apelo do filme é mais nostálgico, para quem leu as histórias ou assistiu à animação quando criança. Sem ligação emocional, é apenas somente mais uma opção para se distrair.

Pedro Coelho (2018)

(Peter Rabbit)
  • País: EUA, Austrália, Reino Unido
  • Classificação: Não definido
  • Estreia: 8 de Fevereiro de 2018
  • Duração: indisponível

Tomb Raider: A Origem | Crítica

Alicia Vikander é um acerto, mas Hollywood ainda não entendeu os games

Tomb Raider – A Origem é mais uma tentativa de Hollywood de entender a indústria dos games. Enquanto outras adaptações mudaram grande parte do enredo e trocaram personagens pra transformá-los em algo mais plausível para a audiência, o filme não faz quase nenhuma concessão. Ele é a adaptação mais fiel que um videogame pode ter, em termos visuais e principalmente na ação.

Não é como se essa característica o tornasse um acerto, afinal, são necessárias algumas mudanças para a transição games-cinema funcionar de verdade. Ainda assim, quem é fã da franquia – e principalmente dos últimos jogos – verá cenas idênticas, expressões faciais iguais e até movimentos da protagonista iguaizinhos aos que a Crystal Dynamics criou. De fato, essa Lara Croft é igual a que conhecemos nos games.

A parte frágil de Tomb Raider é o roteiro, que demonstra não só a fragilidade do filme como um todo, mas do próprio game. As situações são pautadas por clichês e as relações entre personagens são superficiais ao extremo – mesmo que o elenco escolhido seja de ótimos atores. A história aqui mescla elementos dos dois últimos jogos e entrega uma jornada de origem da heroína. Ainda que exista algum risco e emoção na aventura como um todo, há pouco com que se importar com Lara.

Se por um lado a falta de controle da personagem limite a relação da audiência com Croft, Alicia Vikander consegue entregar um bom trabalho com o que tem em mãos: falas rasas e alguns dilemas bem irrelevantes. Lara é super rica, mas não causa ojeriza ao espectador principalmente por causa do carisma da atriz, que desempenha bom papel na ação e nas cenas mais dramáticas. Ao lado dela, Walter Goggins é outro que consegue fazer um bom trabalho dentro das limitações de Mathias Vogel, vilão do longa. Infelizmente o mesmo não se pode falar de Richard Croft, vivido por Dominic West. O explorador serve como inspiração para a protagonista, mas desvia o foco e chama atenção para todos os erros do roteiro: tudo que contém o pai de Lara faz o filme perder a força. Sem dúvida, ele protagoniza a pior e mais desnecessária cena do filme.

Tomb Raider tem ótimas cenas de ação e entrega uma diversão descompromissada que consegue não ofender o espectador, apesar das falhas do roteiro ao desenvolver a relação de pai e filha. Vikander segura a onda quando está em cena e realmente transforma a personagem em algo mais interessante, com boa possibilidades para o futuro. Talvez se fosse menos fiel e esquecesse a emulação de tantas relações e cenas do game, Tomb Raider – A Origem fosse melhor, menos superficial. Muitas vezes, a sensação é de se estar reassistindo o game, mas sem poder controlar nada – o que elimina qualquer interação e empatia com a história.

É mais uma tentativa de Hollywood que não chega a ser um fracasso, mas mostra que ainda é necessário mais tempo para compreender o que há de melhor mas histórias contadas em videogames.

Tomb Raider: A Origem (2018)

(Tomb Raider (2018))
  • País: EUA
  • Classificação: Não definido
  • Estreia: None
  • Duração: indisponível

Nota do crítico:twohands(Regular)

Aniquilação | Crítica

Novo filme do diretor de Ex Machina disponível na Netflix é um conto de terror cósmico disfarçado de ficção científica

Alex Garland é um dos nomes mais promissores da ficção científica. Com uma carreira como roteirista de filmes como Extermínio (2002) e Dredd (2012) e jogos como DmC: Devil May Cry (2013), o cineasta fez sua estreia como diretor com Ex Machina (2014), um sci-fi de peso, vencedor do Oscar em efeitos visuais e indicado na categoria de Melhor Roteiro Original. Agora, Garland retorna mais uma vez ao gênero com Aniquilação.

Adaptação da obra de Jeff Vandermeer, a trama acompanha Lena (Natalie Portman), viúva, ex-militar e bióloga, que vê no misterioso retorno de seu marido Kane (Oscar Isaac) após um ano dado como morto em missão para investigar a Área X, uma espécie de distorção que está se alastrando e pode representar uma ameaça à raça humana. Essa volta faz com que Lena se junte a outras pesquisadoras para investigar a natureza dos acontecimentos dentro da Área X.

A jornada ao mistério é um crescendo, tornando-se cada vez mais estranha, perigosa e enlouquecedora às exploradoras. Ainda que o longa se venda como um sci-fi, Aniquilação se assemelha mais a um conto de terror cósmico, subgênero da literatura popularizado por Robert W. Chambers (O Rei de Amarelo) e H.P. Lovecraft (O Chamado de Cthulhu) em que narradores não-confiáveis falam sobre experiências capazes de mudar toda a percepção da raça humana com um mero olhar.

Desde o início é certo que Lena é a única sobrevivente da expedição, onde reconta a jornada a um grupo de médicos – nem sempre sendo verdadeira sobre o que encontrou na Área X. A trama também comenta a condição humana e o eterno ciclo de nascimento e morte, com seus momentos finais fazendo o espectador confrontar a possível impotência, despreparo e insignificância dos humanos perante o restante do universo.

O elenco também é um destaque: além de Portman e Isaac, conta também com Tessa Thompson (Thor: Ragnarok), Jennifer Jason Leigh (Twin Peaks), Gina Rodriguez (Jane the Virgin) e Tuva Novotny (Comer Rezar Amar). Infelizmente, o talento é pouco aproveitado já que as personagens são pouco desenvolvidas além da irritação e confusão. Se quer seguir o exemplo de Enigma de Outro Mundo (1982), é preciso levar as intérpretes ao limite, onde o espectador realmente acredita que a situação cria pessoas instáveis, voltando-se uns contra os outros.

A linguagem visual também deixa a desejar. Apesar da história e ritmo em constante progressão, os planos continuam parados e pouco inspirados por todo o filme. O trabalho de câmera não muda nem mesmo quando as coisas mais estranhas passam a acontecer – transformação muito bem representada na trilha sonora com a introdução tardia dos sintetizadores, passando a sensação de algo de outro mundo. Mesmo com belas e coloridas paisagens, a linguagem do longa rapidamente torna-se tediosa.

Garland novamente provou ser um excelente roteirista de gênero, que levanta questões afiadas sobre a condição humana, mas acaba pecando na hora de ilustrar isso. Considerando que tanto Dredd quanto Ex Machina são histórias focadas, talvez o problema tenha sido na hora de desenvolver um mundo maior e vívido, que vai além de um prédio tomado por criminosos ou a casa de um excêntrico inventor.

Em alguns aspectos, Aniquilação entrega muito menos do que é capaz – mas o resultado final ainda é algo memorável e perturbador. São raros os exemplos de terror cósmico que funcionam fora da literatura – como a primeira temporada de True Detective. O filme tropeça aqui e ali na hora de traduzir o horror existencial que permeia a mente dos leitores, mas no fim das contas faz o espectador refletir um pouco a relação da humanidade com tudo ao seu redor.

Aniquilação (2017)

(Annihilation)
  • País: EUA, Reino Unido
  • Classificação: Não definido
  • Estreia: 22 de Fevereiro de 2018
  • Duração: indisponível

Pantera Negra | Crítica

Ryan Coogler cria filme de super-herói empolgante, destemido e universal

Com sua estreia na Fantastic Four #52, em julho de 1966, Pantera Negra comprovava mais uma vez a capacidade dos quadrinhos de captar a situação social ao traduzir em cores e ação o Movimento pelos Direitos Civis nos EUA. Mais de 50 anos depois, o herói ganha seu filme solo não apenas para atender a necessidade por diversidade e representatividade no cinema. Pantera Negra é um manifesto cultural, sem medo de falar sobre as questões raciais nos EUA, passadas e atuais, ao mesmo tempo em que faz um filme de super-herói empolgante e universal.

Ryan Coogler, o diretor (também responsável por Creed: Nascido para Lutar e Fruitvale Station: A Última Parada), diz que, apesar da estrutura de blockbuster, esse é seu filme mais pessoal. “Para mim, lida com a pergunta que tenho me feito desde que era jovem: o que significa ser africano?”, explica. O aprendizado do cineasta, que escreve o roteiro ao lado de Joe Robert Cole, é traduzido no encantamento por Pantera Negra e seu universo. A “fórmula da Marvel” se torna uma oportunidade de gritar mais alto, permeando a linguagem preeestabelecida por um poderoso subtexto.

Até mesmo o vilão, uma questão problemática no universo cinematográfico da Casa das Ideias desde Homem de Ferro (2008), é usado a favor da trama. Erik Killmonger (Michael B. Jordan) é o reflexo de T’Challa (Chadwick Boseman), mas Coogler subverte positivamente o clichê do herói contra si mesmo para estabelecer um paralelo rico e oportuno. Killmonger não é apenas um obstáculo a ser superado para que o Pantera acredite na própria força. Ele é o outro lado da moeda, uma oportunidade de reflexão sobre o legado de Wakanda e o alcance da sua responsabilidade. As ações do passado, tomadas por T’Chaka (John Kani) e N’Jobu (Sterling K. Brown), o pai de Killmonger, reverberam no presente, mas cabe a nova geração levar a nação adiante. Da sua imagem espelhada, T’Challa confronta erros para ser não apenas um herói, mas um líder melhor.

Esse peso social que Pantera Negra carrega em cada cena, desde o prólogo que explica em minutos todos os conceitos necessários para o entendimento da história, não interfere na sua capacidade de entreter. Com um roteiro redondo, Clooger e Cole posicionam personagens e situações para encontrar leveza. Shuri (Letitia Wright), a irmã mais nova de T’Challa, Garra Sônica (Andy Serkis), o vilão apresentado em Vingadores: Era de Ultron, e o agente Everett K. Ross (Martin Freeman) são responsáveis pelo humor mais descarado, mas a boa construção dos personagens evita que as piadas sejam gratuitas. É o que também explica a ausência de coadjuvantes descartáveis no filme. Um micro universo é criado em torno da espiã Nakia (Lupita Nyong’o), da líder das Dora Milaje Okoye (Danai Gurira), dos guerreiros M’Baku (Winston Duke) e W’Kabi (Daniel Kaluuya), e da rainha-mãe Ramonda (Angela Bassett), de forma que suas existências não se limitam às necessidades do protagonista. Mais do que criar Wakanda, é preciso povoá-la.

A consistência dada aos personagens pelo roteiro e as atuações contorna a insegurança de Coogler ao trabalhar com efeitos visuais. Fica claro no contraste entre as cenas externas em Wakanda e nas ruas da Coreia do Sul que o diretor fica mais à vontade em espaços práticos e urbanos, onde dá agilidade às cenas de ação, seja em um cassino clandestino ou em uma perseguição de carros. Quando precisa lidar com o Chroma Key para dar vida ao país fictício, os cenários perdem a profundidade, a câmera não se arrisca, tornando óbvio o uso da computação gráfica. Cabe ao colorido figurino de Ruth E. Carter, baseado nas artes de Jack Kirby, a tarefa de dar personalidade à nação, criando tribos e líderes para um mundo tão tecnológico quanto ancestral. A trilha de Ludwig Göransson, com consultoria musical de Kendrick Lamar, também trabalha dentro desse conceito, misturando sons convencionais e músicas africanas.

Coogler encara Pantera Negra como uma declaração da importância do imaginário na formação de uma sociedade plural e inevitavelmente faz um filme histórico. Seu herói é forte, ágil, justo e está pronto para ser admirado por uma geração de crianças e adultos e se tornar uma das figuras centrais no futuro do universo cinematográfico da Marvel.

Pantera Negra (2018)

(Black Panther)
  • País: EUA
  • Classificação: 14 anos
  • Estreia: 15 de Fevereiro de 2018
  • Duração: 134 min.

As Aventuras de Paddington 2 | Crítica

Com um leve toque de ironia, a sequência mostra que ser um pouco otimista não faz mal

A frase “para a família toda” e a variação “para todas as idades” são usadas à exaustão para promover filmes infantis e não é de hoje. Mas são poucas as produções do gênero que de fato atingem essa variedade de público como As Aventuras de Paddington 2. Em mais um capítulo das bagunças desse urso fofo em Londres, o novo membro da família Brown é mandado injustamente para a prisão – para a alegria do sr. Curry -, mas nem por isso desiste de acreditar no lado bom das pessoas.

Ansioso para o aniversário de 100 anos da tia Lucy, Paddington encontra o presente perfeito no antiquário do sr. Gruber (Jim Broadbent): um livro 3D com os principais pontos turísticos da capital inglesa. Mas ele não é o único interessado em levar essa raridade para casa. Phoenix Buchanan (Hugh Grant), um ator fracassado que mora no começo da rua, sabe que a obra, na verdade, é uma espécie de mapa do tesouro e não está disposto a perder essa oportunidade por causa do urso dos Brown.

Novamente com uma leve dose de ironia e, claro, com a inocência característica de Paddington, o diretor Paul King volta a usar brinquedos analógicos como recursos para contar essa nova história. Tratando a cadeia como uma espécie de casa de bonecas, por exemplo, vemos o desenrolar de um plano de fuga andar a andar da instituição. Já o sonho do protagonista de trazer sua tia para a Inglaterra invade as páginas do livro 3D. Mas o mundo pré-digital não aparece somente como recurso narrativo. Na realidade, ele permeia toda a caracterização dos personagens, desde o interesse jornalístico de Judy (Madeleine Harris) e as engenhosas habilidades com o trem a vapor de Jonathan (Samuel Joslin) até o encantador circo itinerante que coloca vilão e herói frente a frente pela primeira vez.

Essa atmosfera nostálgica também se dá pela fotografia do diretor Erik Wilson, responsável não somente pelo primeiro longa, como também por Submarine. Com o trabalho impecável do departamento de arte, ele privilegiou as cores e deu um toque indie à produção, que a torna, ao mesmo tempo, tão lúdica e interessante.

O grande destaque do filme, porém, fica a cargo da atuação de Hugh Grant. Caricato e sem medo de fazer piada de si mesmo, ele encarna a excentricidade de Phoenix Buchanan e dá vida a todos os disfarces do ator, da freira ao cavaleiro medieval. Ao final, o grandioso número musical só confirma o que você já sabe desde a primeira aparição do personagem: está aí um vilão que amamos odiar.

De um jeito despretensioso, leve e bem-humorado, As Aventuras de Paddington 2 encanta adultos e crianças com suas particularidades e volta a mostrar que ser um pouco otimista não faz mal nenhum.

As Aventuras de Paddington 2 (2017)

(Paddington 2)
  • País: França, Reino Unido
  • Classificação: livre
  • Estreia: 1 de Fevereiro de 2018
  • Duração: 125 min.

Nota do crítico:5cerejas(EXCELENTE)